A paz é uma condição de
não-violência em relação aos indivíduos, instituições ou nações. Pode-se dizer
que é um estado de harmonia, não conflituoso, entre opostos. Nesse estado, não
há identidade absoluta de idéias, ideais ou formas-pensamento. Contudo, existe
respeito às diferenças, às inúmeras maneiras de pensar, crer ou agir. Num
ambiente pacífico, valoriza-se a liberdade de consciência e de expressão a
ponto de transcender a simples inquietação entre as partes.
O respeito às diferenças, que
promove a paz e a sustenta, faz com que as pessoas — que, por mais afinadas,
jamais pensam e acreditam exatamente da mesma maneira — vejam-se não como
adversários; talvez como pólos complementares, fruto da diversidade e da
riqueza da vida. Sem dúvida os membros das comunidades humanas são mais do que
máquinas fadadas a agir e pensar de modo idêntico, programado.
Como método de manifestação
da cultura da paz, a não-agressão e a concórdia podem ser das maneiras mais
elegantes de se lhe revelar, embora nem sempre as partes envolvidas estejam de
acordo com o pensamento um do outro. Ou seja, a cultura da paz não implica
acatar tudo o que se diz ou que se fala, escreve ou publica, mas impera entre
os pacificadores uma lei não escrita de respeito mútuo. Essa ética, pela qual
se pauta o Homo pacificus, impede que os opostos se convertam, automaticamente,
em inimigos ou adversários. Podem-se abraçar convicções distintas sem
transformá-las em elementos de dissensão; pode-se discordar do outro sem
denegrir sua imagem. Compreende-se que é possível difundir idéias ou lutar em
âmbito filosófico, fazendo apologia da sua visão de uma verdade relativa, sem
transformar o outro em rival ou inimigo declarado.
Sob a visão da
espiritualidade, ao analisar os eventos históricos de todos os tempos,
identificamos alguns tipos psicológicos diretamente ligados à cultura da paz ou
à disseminação da guerra. E não falo apenas da disputa entre nações, sobretudo
refiro-me ao estado de conflito interno, inclusive entre indivíduos que — ao
menos se supõe — deveriam se respeitar, por se dedicarem à mesma bandeira, à
mesma causa. Nesse caso, destaca-se aquele que sustenta e incentiva a paz,
defendendo muitas vezes nobres ideais, mas que, contraditoriamente, espalha a
guerra e transforma o campo de exercício do pensamento em arma para denegrir a
imagem alheia. Consciencialmente, ele se mistura aos que estão em grave crise
evolutiva; sua atitude denota a não-tolerância de qualquer outra face da
verdade, de uma forma diferente de buscar a verdade ou, ainda, analisando de
uma maneira mais abrangente, de nenhuma outra visão de espiritualidade.
Em meio aos representantes do
maior pacifista da história humana, Jesus, parece ser dos lugares onde a paz é
menos compreendida, ainda não vivida. O estado de não-violência às vezes soa
apenas como fachada. Tão logo surja alguém que pense, fale ou escreva algo
inusitado, que possivelmente apresente uma visão mais real, progressista e
menos romântica da vida e da espiritualidade… é o suficiente para que a situação
de harmonia desapareça. Esvai-se o cessar-fogo das palavras e agressões, que
imediatamente chega ao fim. Vêm à tona as trocas de gentilezas, que destilam o
veneno da agressividade verbal e dificilmente não descambam para o ataque
pessoal.
Consola-nos o fato de que
caminhamos todos, os seres vinculados ao planeta Terra, para maior compreensão
e vivência da paz. Também provoca-nos satisfação saber que existem aqueles que
são capazes de apresentar seu ponto de vista, aprender e viver por vias
alternativas à guerra individual, filosófica ou verbal, tornando-se assim
instrumentos evolutivos de grande sintonia com a cultura da paz.
Somente o cultivo fervoroso
da paz consegue estabelecer entre irmãos de humanidade condições de viver em
harmonia, com vigência de valores éticos e respeito às diferenças. A paz
promove a existência e a sobrevivência dos opostos com alto grau de
produtividade intelectual e emocional, uma vez que o contraste entre ambos se
afigura apenas como mola propulsora de progresso em busca de uma expressão mais
ampla da vida, da verdade, independentemente de que lado esteja essa mesma
verdade.
É hora de modificar a cultura
da guerra, dominadora da maioria dos seres vinculados à Terra. A reciclagem dos
valores humanos acumulados ao longo dos milênios é de grande urgência, pois,
diante dos tempos novos que devem-se estabelecer no mundo, precisamos, os
espíritos ligados à política divina e crística, conquistar a superação das
rivalidades pessoais. Só assim se poderá trazer ao mundo a renovação real e não
apenas fruto de ideações religiosas ultrapassadas. A demolição do estado
interior de agressão e agressividade faz com que a paz se estabeleça
definitiva. A paz íntima e consciencial, com o natural respeito e a compreensão
pelo direito do outro de pensar, falar e agir de forma diferente da nossa, traz
o selo da aproximação, da solidariedade, do entendimento e da responsabilidade
mútua. Eis o que fomenta o progresso e desmilitariza o mundo íntimo, desarmando
o espírito humano para viver mais plenamente um estado concreto de pacificação.
Ângelo Inácio (espírito)
Psicografia de Robson
Pinheiro
Robson
Pinheiro é autor de
Tambores de Angola e Senhores da escuridão, ambos do espírito Ângelo Inácio,
entre mais de 25 livros. Fundou e dirige a Sociedade Espírita Everilda Batista,
na Região Metropolitana de Belo Horizonte, MG, e faz o programa Além da Matéria
na Rádio Boa Nova.